A pesca artesanal é algo que dá trabalho. O que, aparentemente parece fácil, requer um envolvimento significativo. Preparar o material, obter a isca, comprar suprimentos, entre outros, são alguns passos para os momentos de lazer. O cérebro, automaticamente, almeja uma boa pescaria diante das excelentes condições climáticas apresentadas. Porém, após a linha ser lançada, em doses homeopáticas, ocorre a constatação de que o “mar não está para peixe”. Horas e horas esperando, tentando e nada... Valeu a pena o “sacrifício”? Muito! Quando um pai leva um filho para pescar sabe, evidentemente, como as coisas funcionam. O resultado contraindicado, no fundo, é maravilhoso. A paciência e a frustração, de modo natural, e stão sendo treinadas. O desejo não realizado imediatamente, cede espaço para algo que terá uma aplicabilidade infinitamente maior ao longo da vida. Desistir? Nem pensar! Num outro belo dia, todos os procedimentos serão feitos novamente. O peixe, coitado, é secundário.
A geração atual, em grande parte, não exercita tolerância a frustração, como também, a paciência. O ritmo alucinado da realidade, a competitividade cruel, implacável, cria pais sobrecarregados e imediatistas. Tudo deve ser para “ontem”. Por sua vez, os descendentes, vão incorporando essa dinâmica que fornece pouco espaço temporal para o aprendizado útil supracitado. A velocidade com que o todo deve ocorrer é simplesmente absurda. Por outro lado, a margem para os erros, relacionada aos aspectos que não correspondem as expectativas e os decorrentes inconformismos, está cada vez menor. Tem que dar certo sempre. É criada a lei do “tudo ou nada”. A precariedade de uma aceitação interna diante dos fracassos desencadeia o colapso. Destarte, esse molde introjetado, seguirá o mesmo padrão ao longo do desenvolvimento. Portanto, várias facetas da existência ficam afetadas. A pressão interna é tanta que análises de consequências futuras são praticamente inexistentes. O agir é preponderante. Pensar, refletir, ocorre bem depois. Quando ocorre.
Em condições normais, metas mais ambiciosas, requerem um tempo maior de planejamentos e execuções. E, dificilmente, conseguimos algo sem percalços ou redirecionamentos no caminho. Ninguém, absolutamente ninguém, está isento dos revezes naturais apresentados. Sendo assim, o grande diferencial é a forma como lidamos com todas as barreiras que são apresentadas. Suportar as indesejáveis dores provenientes das frustrações, sem dúvida, fortalece o psiquismo. Ao contrário, quando temos pressa na solução dos nossos problemas ou desistimos de enfrentá-los, inevitavelmente, enfraquecemos o conceito que temos acerca do nosso eu. A autoestima e a alma adoecem drasticamente. Em suma, no mundo contemporâneo, é imprescindível refletirmos acerca da capacidade de persistirmos em atividades difíceis, tolerarmos incômodos e dificuldades. Não obstante, entenderemos melhor a expressão “paciência de pescador”.
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Alberto Amaral Alfaro
natural de Rio Grande – RS, advogado, empresário, corretor de imóveis, radialista e blogueiro.